sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Se existem super-heróis então também existem kryptonitas


Antes de qualquer coisa, isto é um texto para os homens. Se quiserem considerar-me machista, fiquem à vontade. Venho de uma criação machista, minha geração é machista (até as mulheres, ou você não escolhem roupinhas azuis para os meninos e rosa para as meninas?). Não se muda isto da noite para dia, mas eu venho tentando, naquilo que consigo ótimo, o que não consigo paciência.
Muitos de vocês devem ter assistido a trilogia de filmes O Senhor dos Anéis, mas quero falar de uma parte no terceiro filme, O Retorno do Rei. Para quem se lembra, o personagem Faramir, que é filho do regente, liderava um grupo de soldados em um posto avançado, era a primeira linha de defesa contra os inimigos que desejassem atacar a cidade de Gondor. Fez isto por praticamente toda sua vida e no dia que falhou foi tratado pelo pai como se nunca tivesse se empenhado em proteger seu povo.
Da mesma forma, por centenas de anos a cidade de Gondor, que fica posicionada entre o inimigo e o restante da Terra Média, fazia a primeira linha de defesa contra as forças do mal, tornando a vida dos outros seres que lá vivem mais segura. Inclusive, muitos nem sabiam que isto acontecia, como é o caso dos Hobbits, que viviam suas vidinhas felizes e inocentes sem perceber que alguém se sacrificava para que isto fosse possível. E mesmo entre os que sabiam, saber é uma coisa, vivenciar é outra.

Em um outro filme, Caminhando Nas Nuvens, um pai é acusado de não amar a própria filha, isto porque ele é rígido e não expõe seus sentimentos. O que ninguém percebe é que ele se sacrifica todos os dias para que aquelas pessoas ao redor dele possam seguir suas vidas sem maiores complicações. Isto só fica evidente quando as coisas deixam de dar certo e todos precisam sair debaixo das asas e aprenderem a voar por conta própria. Ou, até como uma grande árvore centenária, que por décadas, talvez séculos fez sombra para quem precisava, mas ninguém realmente notou isto até o dia em que ela foi cortada.

Eu vi meu pai fazer coisas que só compreendo hoje e sinceramente agora enxergo o quanto fui ingrato e até cruel. Em fases da nossa vida em que ele estava desempregado, a gente cobrava de não ter isto ou aquilo e penso agora como ele devia sofrer com aquelas cobranças. Como é doloroso para um pai ver seu filho pedir algo e não poder dar! Claro que existem mulheres que passam por isto, mas ainda é uma coisa pela qual a maioria que passa é homem. Talvez pela forma que fomos criados, para ser o escudo da família, o provedor, etc. Mesmo que hoje em dia esta tarefa esteja sendo aos poucos compartilhada pela mulher, ainda são os homens que são cobrados de tal responsabilidade. Quando tudo sai como o esperado ouvimos frases como: atrás de um homem de sucesso sempre existe uma grande mulher. Mas quando tudo dá errado o homem afunda sozinho com toda responsabilidade.
E não estou colocando os homens como coitadinhos, os homens irão me entender: fomos lapidados para isto, aprendemos a suportar, é assim que carregamos os fardos que ninguém quer carregar. Porém, cobram de nós que sejamos diplomatas quando nos ensinaram a ser soldados. E Não me venham falar de homens preguiçosos, viciados, etc, que encontraram em suas vidas. Estou falando daqueles que tentam, acertam, erram, mas não desistem. De homens que não são super-homens, não tem super poderes e uma hora precisam de ajuda. 

E é nessa hora que eles percebem que as pessoas ao seu redor nem sabiam dos seus esforços, pois a vida delas sempre foi assim, protegida por algo ou alguém. Nessa hora que eles se sentem sozinhos na escuridão. Nessa hora em que pensam em desistir e descobrem que nem este direito eles têm. Pois, suas consciências não permitem. As pessoas demoram a entender a realidade. Demoram ainda mais a aceitá-la.  Se existem super-heróis então também existem kryptonitas. Não ajam como se fôssemos de aço, pois mesmo que fosse verdade, o aço também quebra.