Minha avó sempre dizia: antigamente as coisas eram melhores! Talvez ela tivesse razão, mas eu prefiro acreditar que não. Já perceberam como toda geração tem o hábito de achar que sua infância foi melhor que a atual?
Durante os cinco semestres que freqüentei o curso de Educação Física este era um tema que sempre surgia. Como a obesidade infantil e outros tipos de problemas relacionados ao sedentarismo estão aumentando, atingindo números alarmantes, a sociedade, em especial os “especialistas”, precisam encontrar culpados. Até aqui tudo bem, o problema ao meu ver é quando em um julgamento simplista e sem profundidade elegem a tecnologia como vilã.
Para ficar claro, eu cresci na rua. Brinquei de pega-pega, esconde-esconde, e todas outras brincadeiras que se brincava 20 anos atrás até tardes horas da noite. Fui criança em uma época em que se podia subir no telhado da casa do vizinho para pegar uma pipa sem ter medo de levar um tiro. Em que se deitava na enxurrada da chuva sem perigo (ou quase) de ser espetado por uma agulha de seringa. Em que a pior droga que um amiguinho podia lhe oferecer era um cigarro.
Ao elegerem computadores, celulares e vídeo games como responsáveis pelo sedentarismo e sua conseqüências, muitos esquecem que não foi só isso que mudou. As ruas estão mais violentas. Na maioria dos lugares não se podem deixar crianças e adolescentes saírem à noite, dependendo do lugar até mesmo durante o dia. Outra coisa: a maioria das pessoas com mais de trinta anos hoje tinha ou pai ou mãe ou uma avó em casa. Hoje os casais precisam trabalhar e nem todos podem pagar babás ou similares. As crianças ficam sozinhas por uma questão econômica. A tecnologia acaba até por ser um paliativo para este problema.
Eu sou pai, praticante de esportes e amante de tecnologia com ênfase para jogos eletrônicos. Tento passar para meu filho o valor de ambas as coisas. Mas vejo a dificuldade que é ensinar uma criança os prazeres da atividade física e das brincadeiras ao ar livre quando a liberdade dela limita-se por um portão. Concordo que as pessoas atualmente abusam dos recursos tecnológicos tanto na diversão quanto no trabalho. Mas precisamos pensar em soluções práticas para o problema do sedentarismo tendo em mente os problemas sociais envolvidos. Por a culpa em uma ou duas coisas quando o problema é a mudança de todo um comportamento das pessoas em reflexo a questões sociais mais complexas é de um saudosismo exagerado. É quase como falar que o cavalo era melhor que o carro.
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